quarta-feira, novembro 25, 2009

REMENDADA?


Na tentativa de sabe-se lá o que, eles cortaram a corda ao meio.
Achavam que era o melhor, mesmo sem entender o motivo.
Depois arrependeram e fizeram um remendo.

Cortaram de novo, pela mesma falta de razão, e deram outro jeito de remendar.
- O problema é o local do corte?

Cortaram novamente, dessa vez ia funcionar!
- Funcionar para que, mesmo?

Agora precisam dela inteira e perceberam que cortar não era a necessidade.
O problema atual é que ela pouco serve com tantos remendos. Não vendem outra igual e é aquela que eles querem, também sem saber o motivo.
Achar novo sentido para a corda ou comprar uma diferente?

sexta-feira, novembro 20, 2009

A MENINA E O PÁSSARO ENCANTADO


Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo.
Ele era um pássaro diferente de todos os demais: era encantado.
Os pássaros comuns, se a porta da gaiola ficar aberta, vão-se embora para nunca mais voltar. Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades… As suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor. Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava. Certa vez voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão…

— Menina, eu venho das montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco do encanto que vi, como presente para ti…

E, assim, ele começava a cantar as canções e as histórias daquele mundo que a menina nunca vira. Até que ela adormecia, e sonhava que voava nas asas do pássaro.
Outra vez voltou vermelho como o fogo, penacho dourado na cabeça.

— Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água, onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga. As minhas penas ficaram como aquele sol, e eu trago as canções tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes.

E de novo começavam as histórias. A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro amava a menina, e por isto voltava sempre.
Mas chegava a hora da tristeza.

— Tenho de ir — dizia.
— Por favor, não vás. Fico tão triste. Terei saudades. E vou chorar…— E a menina fazia beicinho…
— Eu também terei saudades — dizia o pássaro. — Eu também vou chorar. Mas vou contar-te um segredo: as plantas precisam da água, nós precisamos do ar, os peixes precisam dos rios… E o meu encanto precisa da saudade. É aquela tristeza, na espera do regresso, que faz com que as minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudade. Eu deixarei de ser um pássaro encantado. E tu deixarás de me amar.
Assim, ele partiu.

A menina, sozinha, chorava à noite de tristeza, imaginando se o pássaro voltaria. E foi numa dessas noites que ela teve uma ideia malvada: “Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá. Será meu para sempre. Não mais terei saudades. E ficarei feliz…”

Com estes pensamentos, comprou uma linda gaiola, de prata, própria para um pássaro que se ama muito. E ficou à espera. Ele chegou finalmente, maravilhoso nas suas novas cores, com histórias diferentes para contar. Cansado da viagem, adormeceu. Foi então que a menina, cuidadosamente, para que ele não acordasse, o prendeu na gaiola, para que ele nunca mais a abandonasse. E adormeceu feliz.
Acordou de madrugada, com um gemido do pássaro…

— Ah! menina… O que é que fizeste? Quebrou-se o encanto. As minhas penas ficarão feias e eu esquecer-me-ei das histórias… Sem a saudade, o amor ir-se-á embora…
A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas não foi isto que aconteceu. O tempo ia passando, e o pássaro ficando diferente. Caíram as plumas e o penacho. Os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio: deixou de cantar.

Também a menina se entristeceu. Não, aquele não era o pássaro que ela amava. E de noite ela chorava, pensando naquilo que havia feito ao seu amigo…
Até que não aguentou mais.
Abriu a porta da gaiola.

— Podes ir, pássaro. Volta quando quiseres…
— Obrigado, menina. Tenho de partir. E preciso de partir para que a saudade chegue e eu tenha vontade de voltar. Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro de nós. Sempre que ficares com saudade, eu ficarei mais bonito. Sempre que eu ficar com saudade, tu ficarás mais bonita. E enfeitar-te-ás, para me esperar…
E partiu. Voou que voou, para lugares distantes. A menina contava os dias, e a cada dia que passava a saudade crescia.

— Que bom — pensava ela — o meu pássaro está a ficar encantado de novo…
E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos, e penteava os cabelos e colocava uma flor na jarra.
— Nunca se sabe. Pode ser que ele volte hoje…
Sem que ela se apercebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado, como o pássaro. Porque ele deveria estar a voar de qualquer lado e de qualquer lado haveria de voltar.
Ah!Mundo maravilhoso, que guarda em algum lugar secreto o pássaro encantado que se ama…
E foi assim que ela, cada noite, ia para a cama, triste de saudade, mas feliz com o pensamento: “Quem sabe se ele voltará amanhã….”
E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro.

quinta-feira, novembro 19, 2009

EQUILÍBRIO


Sempre me diziam que costumava agir com a razão, desconsiderando o coração.
Custou, mas certo dia assumi. "Vou chegar no meio termo".

Ontem agi com o coração, deixando a razão de lado. Não menos doloroso, percebo, assumo e arco com as conseqüências.

Agora, fico pensando quem saberia essa medida. Quem poderia dizer a pitada de cada um; o modelo ideal, se é que ele existe.

E por aprender com a vida que não se equilibra a pimenta sem conhecer a ausência dela, no fim, as rasuras dessas linhas são uma boa notícia...

segunda-feira, novembro 16, 2009

FIM DE AMOR

Quando um amor acaba e ainda há tanto amor, ele vira dor
Dor de não saber que rumo seguir, dor de amor que não consegue ser inteiro sozinho
Dor do ego que disputa o tamanho da própria dor
Dor de saber que contos de fadas não existem e que essa história não terá final feliz
Dor de planos feitos, de expectativas criadas, de tudo que não será realizado.

O amor precisa se apegar em algo para manter sua sanidade
Ele ouve as pessoas dizerem que o tempo traz a cura
E se irrita porque, se for verdade, significa que ele, o amor, terá fim
Desejar isso seria querer sua própria morte.

Então o amor resolve manter a dor, para não morrer com a ausência das novas lembranças
E decide ficar em casa por semanas, viver de música e cartas antigas
Ele oscila em angústia, raiva, culpa
Raiva que lhe trouxe arrependimento
Culpa que lhe traz mais sofrimento.

Em um momento que não sabe precisar
Esbarra em um novo amor
E entende que o velho amor não morre
Altera a forma, a intensidade, o objetivo
Ama como quem quer o bem
Dentro do limite não imposto, criado com naturalidade.

Percebe que sempre irá amar aquele amor de sua memória
De um jeito diferente, porque ambos mudaram
Porque nenhum deles existe como um dia se conheceram
Ou simplesmente porque o tempo quis provar do que é capaz.