domingo, março 18, 2012

SOBRE AMOR E PÉS


Recentemente decidi por recomeçar a leitura do livro O corpo tem suas razões, de Thérèse Bertherat, que havia pausado no final do ano anterior por conta das razões que busco para não entender meu próprio corpo. E então cheguei novamente ao capítulo em que a autora relata a trágica morte de seu marido. Parei no momento em que ela entra no quarto do hospital que o esposo se encontra após cirurgia e relata: “agora ele está numa cama. Seus pés saem para fora do lençol. Cubro-os. Sei que ele não gostaria de mostrar seus pés aqui”.

Imediatamente me lembrei de um episódio em que a terapeuta me pediu para colocar no papel características que desejo encontrar em meu namorado e, na coluna ao lado, aquelas que não se encaixavam no perfil da pessoa que busco. Ela se referia a um futuro namorado, pois havia terminado um relacionamento naquele período. A terapeuta achava que eu precisava entender o que procuro e, como escrever costuma clarear minha mente, tentou usar esse método.
Achei racional demais na época. Fazer uma relação das características que espero que uma pessoa tenha? Sair por aí classificando se alguém possui ou não um item da minha lista particular de características desejadas não me parecia agradável. Nada feito. Deixei a lista de lado e com ela a organização das ideias a respeito do assunto.
E então a frase de Thérèse ficou em minha cabeça por dias, fazendo-me refletir sobre aquele momento da terapia.

Sei que ele não gostaria de mostrar seus pés aqui.”
Uma frase carregada de amor. De zelo. De afeto. De conhecimento e entendimento do outro. De compreensão do desejo do ser amado. Uma frase com ação. Ação de estabelecer o conforto. De respeitar a vontade. De manter a cumplicidade até o fim.
Tão singelas quanto o ato de cobrir os pés, as poucas palavras me mostraram que já encontrei o que buscava. Há muito tempo.