
Meu primeiro amor foi o Rafael.
Tímido e encantador, como não poderia deixar de ser. Pele clara, cabelo escuro com corte surfista, braço engessado. Inteligente. Tinha a minha idade: quase 5 anos.
Nossa convivência era diária, já que estudávamos na mesma sala e nossa casa era distante alguns quarteirões.
Em um dos meus aniversários na escola, Rafa me trouxe um cartão em formato de coração. Não um qualquer; era o seu coração, feito por suas pequenas mãos.
Eu, para retribuir o carinho, virei o rosto na hora de ganhar o beijo de parabéns na bochecha e, com toda intenção do mundo, fui em direção ao nosso primeiro e único selinho. Sem nenhuma timidez: na frente de toda a turma e de minha mãe.
Recordações como essa costumam bater na porta em alguns momentos da vida, em busca de (re)encontrar do outro lado aquela menina de quase 5 anos: inocente, ousada, persistente com toda energia oriunda da infância e, em especial, capaz, naturalmente, de descobrir a felicidade nas pequenas coisas.