quinta-feira, agosto 28, 2014

TOLERÂNCIA DISFARÇADA

Indivíduos fazem posts no Facebook com suas posições políticas para todos os seguidores. Conversam sobre o assunto publicamente e pessoalmente. Discutem com convicção o que acreditam. Legal, ótimo, maravilha! É um direito do cidadão. Não tem mal nenhum nisso. Tem muito bem, inclusive. Discussão saudável é sempre enriquecedora, especialmente se regada a bons argumentos, tolerância e uma boa dose de senso de humor. 

O problema está quando esses mesmos indivíduos se deparam com algum amigo ou conhecido que possui uma posição contrária à sua. Aí começa o show de "decepções" públicas nas redes sociais.
"Que vergonha, vou te excluir"; "Tenho que rever minhas amizades"; "Não esperava isso de você"; e por aí vai, o show de horrores dos pseudo tolerantes que só precisam de uma contrariedade para serem desmarcarados.

Eu me pergunto: pra que ameaçar de excluir? Pra que publicar que vai rever amizades, ou, em alguns casos "conhecidos"? Vai e faz! Se está tão convicto de que você só deve conviver com quem tem uma posição política que você julga, no mínimo, razoável, exclua a pessoa da sua vida! Virtual ou pessoalmente, precisa ameaçar pra fazer? 
Cada dia uma nova pérola. Gente que se conhece fora das redes sociais. Gente que é amigo virtual. Gente que nem é amigo. Gente que convive diariamente. Fico de fora, observando e refletindo. E me orgulho por sentir que minhas amizades não foram construídas dentro de uma convicção política. Nem dentro do Facebook. Elas foram construídas através dos momentos juntos que tocaram nossas vidas, nossas almas. Se não possuímos as mesmas convicções políticas, religiosas ou qualquer outra, isso importa, mas não o suficiente para descartar as pessoas, ou desvalorizá-las (e pior: publicamente). Não o suficiente para deixar de entender que vivo em um mundo plural e que cada um tem uma história, uma cultura, e que não sou ninguém para julgar os caminhos que o fizeram chegar onde está e acreditar no que acredita. Em muitos casos, uso meu direito e dever de expor meus argumentos e opiniões com respeito, mas cabe ao indivíduo avaliar se isso serve pra vida dele. Não o contrário. Seja ele amigo, ou conhecido.


Imagem localizada na web. Procura-se o
dono para conceder o devido crédito.
Em um momento tão importante para nosso país, mais do que briguinha mimada sobre posição política, ameaça infantil de desfazer amizades (sim, parecem crianças ameaçando contar para a mamãe que o irmão fez besteira) que importam ou que não importam, cabe a cada um avaliar seu ponto de vista e, se julgar adequado, posicionar-se publicamente com respeito às convicções dos outros. Ninguém muda ninguém. E essa não é uma novidade que eu descobri agora. A prova está no mundo, pra quem quiser enxergar.

Se você não tolera a diferença política, simplesmente pare de ameaçar e de fato exclua as pessoas que precisam ser excluídos de sua vida. Vá! Faça! Afinal de contas, se uma pessoa é tão descartável assim pra você, se não tem a importância que deveria, certamente você estará fazendo um favor ao seu suposto amigo, saindo da vida dele e deixando pessoas melhores por perto. (Sim, melhores. Desculpe o julgamento que publicamente estou fazendo). Mas tenha consciência que essa intolerância que faz parte de você, certamente não existe apenas nesse ponto da sua vida. E é possível que você seja exigido pela vida a rever seus conceitos um dia. E talvez seja de uma maneira não muito agradável. E talvez você precise de pessoas ao seu lado para enfrentar. Talvez, quem sabe, as mesmas que você está jogando no lixo. Somente talvez...

segunda-feira, novembro 18, 2013

SOBRE BRINCAR DE RESPEITAR O PRÓXIMO. Inevitável não comentar as polêmicas das redes sociais.

Quando um torcedor chama outro torcedor de gay, Maria, maricas, bicha ou qualquer outra palavra que remeta à homossexualidade ou qualquer opção ou condição diferente da sua é sim uma forma de preconceito. Quem faz isso está querendo diminuir o torcedor do time oposto e acredita que chamá-lo dessa maneira é uma forma de dizer que ele é pior.

Por que o meu concorrente tem que ser gay? Quer dizer, o time que não presta pra mim é o time dos “viados”? Os “viados” não prestam? É essa a mensagem que você passa.

Se você, torcedor que considera o seu adversário uma “Maria”, não tivesse em sua consciência que ser gay é algo ruim, não chamaria o outro da torcida assim. Se ser gay fosse bom e correto seu concorrente não seria Maria, pois é bom demais pro time oposto. “Chupa Marias”, “Chupa maricas”. Que coisa mais ridícula de se propagar na sociedade.

Brincadeiras ou não, tem adulto demais nas redes sociais reproduzindo um pensamento preconceituoso sem avaliar as implicações de suas atitudes.
Vamos brincar de respeitar as pessoas, suas opções, condições e ideiais de vida? É uma brincadeira mais gostosa.

Um grande problema do preconceito não é aquele grande, vistoso, que a lei pega (ou não) e pune. Mas aquele que está sorrateiramente sendo propagando sem que ninguém faça nada para o conter, porque sempre é apenas mais uma "brincadeira".

sexta-feira, junho 07, 2013

PELE DA DOR

Eu toco, machuco
Sem pudor, empurro
Cutuco, faço urrar
Relembro, resisto
Suprema, confisco

Sob a máscara cruel
Provoco, liberto
Sacudo, desperto
Ensino antes do fim
E aí sim, deixo de parecer ruim

domingo, maio 06, 2012

ESPELHO, ESPELHO MEU...


Meu amigo namora a minha versão adolescente. Imatura, dividida entre um relacionamento sério e a vida social que desponta. Influenciável pelo momento e pelas pessoas ao seu redor. Parecida com mais alguém? Talvez com muita gente, pois a imaturidade não é sobrenatural nem exclusiva de uma parcela da humanidade. 
Vejo a moça perdida na necessidade de seguir o rebanho e abraçar o mundo novo. E ele permanece firme, acreditando que é uma fase. “Vai passar”. E passa, com certeza. Só não se sabe é por quanto tempo dura e o que mais passará até que a fase passe.

Segurei um impulso de escandalizar com a moça, tentar mostrar que ela faz sofrer quem diz amar; que seus choros diários podem cessar se seguir os meus pretensiosos e nada singelos conselhos. Gritar no ouvido dela e estapeá-la pra ver se percebe que mais tarde pode ser tarde demais.

Então percebi que embora eu queira proteger ambos, minha maior insatisfação era comigo mesma, de frente a um espelho do passado.
Lembrei-me de quando era pouco mais nova que ela, e um parente com algumas rugas na face veio me advertir desesperadamente sobre os equívocos que ele julgava que eu estava cometendo. Escutei e respondi em alto e bom som: “deixe que eu faça minhas próprias escolhas, que cometa meus próprios erros; você decidiu e não significa que o que aconteceu com você se repetirá comigo, eu não sou você.”.

Cometer os próprios erros é necessário. Ou os próprios equívocos, como dizem. A experiência do outro não deve determinar o caminho a seguir, mas proporcionar reflexão sobre as escolhas existentes e as possíveis conseqüências. Possíveis, não exatas.
Ao me ver refletida neste espelho comecei, não sem esforço, compreender e perdoar a adolescente imatura do meu passado, que tentando acertar causou algumas dores. Especialmente a si mesma. 
E embora seja um drama ver a moça decidir por caminhos que podem lhe pedir curativos, percebo que foram essas escolhas que me proporcionaram o aprendizado que tive. Também porque entendi que não dá para pular etapas na vida e que a maturidade é construída, torço que ela aprenda tanto quanto eu.