segunda-feira, dezembro 07, 2009

EM BRANCO


Páginas em branco para uma mente com palavras que se recusam a sair.
Limitação do papel ou do vocabulário?
Voz rouca para ouvidos cansados.
Ou voz cansada para ouvidos roucos?
Arrumou um teclado e fez.
Não da forma que planejou mas, fez.

Leveza no ar, com página escrita.
Não tem mais o branco, o vazio, o quase medo.
Tem espera.
Tem o tinteiro que voltou a funcionar.
Tem o velho que findou.

quarta-feira, novembro 25, 2009

REMENDADA?


Na tentativa de sabe-se lá o que, eles cortaram a corda ao meio.
Achavam que era o melhor, mesmo sem entender o motivo.
Depois arrependeram e fizeram um remendo.

Cortaram de novo, pela mesma falta de razão, e deram outro jeito de remendar.
- O problema é o local do corte?

Cortaram novamente, dessa vez ia funcionar!
- Funcionar para que, mesmo?

Agora precisam dela inteira e perceberam que cortar não era a necessidade.
O problema atual é que ela pouco serve com tantos remendos. Não vendem outra igual e é aquela que eles querem, também sem saber o motivo.
Achar novo sentido para a corda ou comprar uma diferente?

sexta-feira, novembro 20, 2009

A MENINA E O PÁSSARO ENCANTADO


Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo.
Ele era um pássaro diferente de todos os demais: era encantado.
Os pássaros comuns, se a porta da gaiola ficar aberta, vão-se embora para nunca mais voltar. Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades… As suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor. Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava. Certa vez voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão…

— Menina, eu venho das montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco do encanto que vi, como presente para ti…

E, assim, ele começava a cantar as canções e as histórias daquele mundo que a menina nunca vira. Até que ela adormecia, e sonhava que voava nas asas do pássaro.
Outra vez voltou vermelho como o fogo, penacho dourado na cabeça.

— Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água, onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga. As minhas penas ficaram como aquele sol, e eu trago as canções tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes.

E de novo começavam as histórias. A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro amava a menina, e por isto voltava sempre.
Mas chegava a hora da tristeza.

— Tenho de ir — dizia.
— Por favor, não vás. Fico tão triste. Terei saudades. E vou chorar…— E a menina fazia beicinho…
— Eu também terei saudades — dizia o pássaro. — Eu também vou chorar. Mas vou contar-te um segredo: as plantas precisam da água, nós precisamos do ar, os peixes precisam dos rios… E o meu encanto precisa da saudade. É aquela tristeza, na espera do regresso, que faz com que as minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudade. Eu deixarei de ser um pássaro encantado. E tu deixarás de me amar.
Assim, ele partiu.

A menina, sozinha, chorava à noite de tristeza, imaginando se o pássaro voltaria. E foi numa dessas noites que ela teve uma ideia malvada: “Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá. Será meu para sempre. Não mais terei saudades. E ficarei feliz…”

Com estes pensamentos, comprou uma linda gaiola, de prata, própria para um pássaro que se ama muito. E ficou à espera. Ele chegou finalmente, maravilhoso nas suas novas cores, com histórias diferentes para contar. Cansado da viagem, adormeceu. Foi então que a menina, cuidadosamente, para que ele não acordasse, o prendeu na gaiola, para que ele nunca mais a abandonasse. E adormeceu feliz.
Acordou de madrugada, com um gemido do pássaro…

— Ah! menina… O que é que fizeste? Quebrou-se o encanto. As minhas penas ficarão feias e eu esquecer-me-ei das histórias… Sem a saudade, o amor ir-se-á embora…
A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas não foi isto que aconteceu. O tempo ia passando, e o pássaro ficando diferente. Caíram as plumas e o penacho. Os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio: deixou de cantar.

Também a menina se entristeceu. Não, aquele não era o pássaro que ela amava. E de noite ela chorava, pensando naquilo que havia feito ao seu amigo…
Até que não aguentou mais.
Abriu a porta da gaiola.

— Podes ir, pássaro. Volta quando quiseres…
— Obrigado, menina. Tenho de partir. E preciso de partir para que a saudade chegue e eu tenha vontade de voltar. Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro de nós. Sempre que ficares com saudade, eu ficarei mais bonito. Sempre que eu ficar com saudade, tu ficarás mais bonita. E enfeitar-te-ás, para me esperar…
E partiu. Voou que voou, para lugares distantes. A menina contava os dias, e a cada dia que passava a saudade crescia.

— Que bom — pensava ela — o meu pássaro está a ficar encantado de novo…
E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos, e penteava os cabelos e colocava uma flor na jarra.
— Nunca se sabe. Pode ser que ele volte hoje…
Sem que ela se apercebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado, como o pássaro. Porque ele deveria estar a voar de qualquer lado e de qualquer lado haveria de voltar.
Ah!Mundo maravilhoso, que guarda em algum lugar secreto o pássaro encantado que se ama…
E foi assim que ela, cada noite, ia para a cama, triste de saudade, mas feliz com o pensamento: “Quem sabe se ele voltará amanhã….”
E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro.

quinta-feira, novembro 19, 2009

EQUILÍBRIO


Sempre me diziam que costumava agir com a razão, desconsiderando o coração.
Custou, mas certo dia assumi. "Vou chegar no meio termo".

Ontem agi com o coração, deixando a razão de lado. Não menos doloroso, percebo, assumo e arco com as conseqüências.

Agora, fico pensando quem saberia essa medida. Quem poderia dizer a pitada de cada um; o modelo ideal, se é que ele existe.

E por aprender com a vida que não se equilibra a pimenta sem conhecer a ausência dela, no fim, as rasuras dessas linhas são uma boa notícia...

segunda-feira, novembro 16, 2009

FIM DE AMOR

Quando um amor acaba e ainda há tanto amor, ele vira dor
Dor de não saber que rumo seguir, dor de amor que não consegue ser inteiro sozinho
Dor do ego que disputa o tamanho da própria dor
Dor de saber que contos de fadas não existem e que essa história não terá final feliz
Dor de planos feitos, de expectativas criadas, de tudo que não será realizado.

O amor precisa se apegar em algo para manter sua sanidade
Ele ouve as pessoas dizerem que o tempo traz a cura
E se irrita porque, se for verdade, significa que ele, o amor, terá fim
Desejar isso seria querer sua própria morte.

Então o amor resolve manter a dor, para não morrer com a ausência das novas lembranças
E decide ficar em casa por semanas, viver de música e cartas antigas
Ele oscila em angústia, raiva, culpa
Raiva que lhe trouxe arrependimento
Culpa que lhe traz mais sofrimento.

Em um momento que não sabe precisar
Esbarra em um novo amor
E entende que o velho amor não morre
Altera a forma, a intensidade, o objetivo
Ama como quem quer o bem
Dentro do limite não imposto, criado com naturalidade.

Percebe que sempre irá amar aquele amor de sua memória
De um jeito diferente, porque ambos mudaram
Porque nenhum deles existe como um dia se conheceram
Ou simplesmente porque o tempo quis provar do que é capaz.

quinta-feira, outubro 29, 2009

1º LUGAR

O vencedor é aquele que dá o máximo de si por aquilo que deseja, que não tem medo de parecer ridículo e nem desiste da luta pela chance de não chegar em 1º lugar .
É o que não desanima e recolhe forças que acredita não ter (mas tem!!!) para tentar de novo. E de novo. E de novo. E novamente. E em cada tentativa tira um aprendizado, uma boa lição.
Vencedor é quem vê em si mesmo a capacidade de ser o campeão na batalha contra a própria compulsão de nos privar do que queremos e não dizemos.

**De comentário no blog Maria Escandalosa para post. Confiram o texto que deu origem a essas linhas: Maria Escandalosa

quarta-feira, outubro 28, 2009

ENCONTRO


Ontem pousei na terra que meses fiquei sem tocar
E sentir esse chão tão firme me faz lembrar onde quero estar.

POR LUANDA PERSÉFONY


Muitas foram as vezes em que me perdeu no seu barulho
e,
maiores as vezes em que seu silêncio me encontrou.

Muitas foram as vezes em que me achei em suas palavras
e,
maiores as vezes em que me perdi em suas canções.

Muitas foram as vezes em você me perdeu no seu vazio
e,
maiores as vezes em que você me encontrou em seu olhar.

E agora,
dentro de tantos (re)encontros,
você me pede para viver neste labirinto sinalizado?!

**Enfim um texto da amiga que adora escrever mas, não gosta de publicar. Imagem escolhida pela autora.

sexta-feira, outubro 23, 2009

REBOLIÇO


O telefone está mudo mas, os pensamentos não se calam.
Os dias passam e o que resta se dissipa com a ausência do sol.
Eu imagino um dia claro, sem as nuvens escuras que rondam minhas horas.
Imagino o sol, que recusava querer, tocando minha pele.
E espero, ansiosa, que o nó vá embora com a chuva que teimo amar.

segunda-feira, outubro 12, 2009

DE QUEM É A VEZ?



Um resposta. Nada mais.
Uma vez a querida, outra a jamais desejada. Elas se revezam.
Agora não vou lutar contra. Já constatado que é revezamento, escrevo essas linhas aguardando a próxima bifurcação.

quarta-feira, setembro 23, 2009

RIO DE PESSOAS LINDAS

Dizer que a paisagem do Rio de Janeiro é linda, torna-se redundante. A gente vê isso nas fotos dos sites de busca, nas revistas turísticas, nas propagandas comerciais.

Quero falar aqui das pessoas lindas do Rio.
Cheias da beleza natural do litoral mas, principalmente, de afeto, de respeito, de gentileza.
Não dá para generalizar afinal, nada na vida é 100% de um jeito.
Só que de notícias ruins sobre as pessoas do lugar a mídia está cheia.
O que quero é ver capturado pela televisão o vigia que informa cuidadosamente o caminho correto; é o cobrador que faz os turistas sentirem-se menos deslocados como o alvo dos paparazzis; a gentileza de uma senhora informando a hora destacada na capa dos jornais; dois estranhos ganhando espaço no outdoor por estarem preocupados com o ato ingênuo da turista, que pode ser perigoso naquele local.

O que o mundo precisa para ser melhor é que as pessoas boas se destaquem, que seus atos sejam divulgados, estampados em cada esquina. Chega das notícias ruins, aquelas que só destacam a maldade porque atrai a atenção; chega de acordar com a ênfase dos problemas do mundo dentro de casa, de parar no sinal e ver a divulgação do sofrimento alheio como forma primeira e mais importante de informação, fonte inesgotável de lucros.
Quando as boas ações forem especialmente divulgadas, talvez possamos aprender mais o bem com o outro e reconquistar a verdadeira fé na humanidade.


sábado, setembro 12, 2009

MEDO

Quando você se irrita por aquelas coisas que digo e faço, tem razão.
Esse é meu recurso automático de defesa contra o medo; minha necessidade desesperada e angustiante de evitar a repetição do filme ruim. É também egoísta.

Essa repetição teimosa que, por mais que eu tente, deseje, lute com todas as minhas forças e quase acredite na racionalidade das probabilidades e nos objetivos Maiores, volta sempre.
Causas destintas mas, com a mesma conseqüência.

Um raio cái incontáveis vezes no mesmo lugar!
E, para esses acontecimentos que não posso mudar, resta-me agarrar a certeza de um objetivo temporariamente oculto. Para os que tenho participação, tenho que lutar contra eu mesma.

segunda-feira, agosto 31, 2009

ALEATÓRIAS

Não me acorde sem eu pedir
Não me ofereça café
Não me faça comer azeitonas
Não me conte seus segredos sádicos
Poupe-me do que não quero ouvir
...
Não finja não escutar quando falo
Não me peça para fazer o que já sabe que eu não gosto
Não desligue o telefone em minha cara
Não ache que meus erros são os piores do mundo
Não ria dos meus gostos
Não queria que eu deixe de viver aquilo que você não soube aproveitar
...
Não me peça pra contar o que você não conta ou pedir o que você não pede
Não espere o que não posso dar
Não tente me moldar à sua maneira
Não queria que eu seja quem não sou
Não finja não ter vergonha quando canto, no meio da rua, de braços abertos
Não fale de mim pelas costas, eu sempre fico sabendo
Não tente me manipular
Não pense que minhas ações sempre querem lhe prejudicar
...
Não banalize meus sentimentos
Não rebaixe minhas dúvidas
Não aceite as desculpas que dou para me afastar
Não se afaste sem dizer o real motivo
Não atenda o telefone omitindo minha presença
Não minta pra mim
...
Não diga ter contado tudo se omitiu a principal parte
Não diga ter esquecido o que ainda está doendo
Não me peça pra sentir bem com seu convite
Não acha que permanece em minha vida como há muitos anos
Não finja querer ir embora
Não esqueça de apagar a luz ao sair

sábado, agosto 22, 2009

TROCAR A LÂMPADA


Haviam dois túneis longos; um repleto de luzes e outro escuro, pois, as lâmpadas estavam queimadas.
A menina, de frente para os dois, sabia que o destino do túnel escuro era o que desejava e achava que para seguí-lo deveria enfrentar seu maior medo, a escuridão.
Procurou alguém para compartilhar a caminhada e não encontrou. Descobriu que todas as pessoas já estavam do outro lado, esperando-a; para chegar lá, teria de caminhar sozinha.
Ficou parada por um longo tempo, anestesiada com a idéia de passar por ali. Vieram os pensamentos reclamões, incialmente a insatisfação com a escurdião, depois com as coisas ao seu redor e logo seria com toda sua vida.
Pobre menina....! Ao querer o túnel escuro, direcionou-se para o iluminado; afinal, é mais fácil reclamar da escuridão e desistir da luta do que se mexer para trocar a lâmpada queimada.

quinta-feira, agosto 06, 2009

MINUTOS INESPERADOS

Nas mãos, marcas dos desafios vividos;
na face, expressão que entrega a necessidade de se manter forte;
nos olhos, um mundo cheio de medo e certeza do “fim”, infinito;
palavras com som equilibrado;
em suas ações, desapego; ou será anulação?

No início, espera rotineira; na despedida, o não planejado: que fazer para você sorrir amanhã?

quarta-feira, agosto 05, 2009

NADA IMPROVÁVEL


Tem gente que deseja coisa improvável de realizar; eu, não! Desejo que o dia comece às 10h e que o natural seja trabalhar das 12h às 21h.